A primeira vez

Lembro como se fosse hoje a primeira vez que pisei no acelerador desse carro. Era manhã de um sábado de sol no inverno de 2020. Havia combinado de ir ver o carro com o lojista que se encontrava no bairro do Ipiranga, meu bairro natal, embora não more mais lá desde 2016. Como falei nos posts anteriores, o fato do carro estar numa concessionária me empolgou. Estava muito em dúvida entre este Mondeo e um Focus sedan Ghia ano 2000, motor Zetec 2.0, que também estava sendo anunciado numa concessionária próxima. Assim, decidi aproveitar e ir conhecer os dois no mesmo dia. Dirigi primeiro o Focus, carro bastante íntegro pelo ano, relativamente bem conservado, mas a cor (verde claro metálico) desagradou imediatamente minha esposa. Além disso, ao dirigir, não empolgou nem um pouco...o carro parecia "preso", a embreagem estava muito alta, o carro estava também bem desalinhado, puxando para um dos lados...enfim, o carro não estava agradável de dirigir. Fiquei um tanto decepcionado, algumas semanas antes quase havia fechado negócio com um Focus Ghia com as mesmas características (cor marrom castor, bonita, diferente), mas o proprietário declinou da negociação literalmente no dia anterior ao que combinamos a ida ao cartório. Esse carro estava bem acertado, me senti imediatamente correspondido quando o testei, mas a vida tem essas coisas...(curiosamente, uma semana depois de ter comprado o Mondeo, o dono desse Focus me enviou mensagem querendo voltar com a negociação, disse que tinha visto as fotos que eu coloquei do Mondeo e tinha voltado atrás na ideia de não vender mais o carro, mas eu tinha acado de pegar o Mondeo e não haveria como pegar o Focus também...
Agradeci o lojista do Focus e literalmente atravessei a rua para ver o Mondeo. Estava numa concessionária pequena, acanhada, na qual cabiam no máximo uns quatro carros. Certamente ele estava tomando o espaço de outro carro mais "vendável" lá...
Quando apareci interessado no Mondeo, tenho certeza que o vendedor deve ter se surpreendido, afinal, quem procura um V6 em tempos de gasolina a R$ 5,70 como esses? Mesmo na época já estava difícil achar gasolina por menos de R$ 5. Seja como for, eu estava bastante seguro da "loucura", pois sabia que não iria necessitar do carro para o dia a dia, pois moro próximo ao metrô e prefiro transporte público para ir ao trabalho, de forma que uso o carro basicamente para levar minha esposa ou mãe ou sogra quando necessitam de algo, dar passeios ao final de semana, uso noturno ou numa emergência. Também possuo outro veículo que é meu xodó que cumpre muito bem todas essas funções, de modo que não iria depender desse Mondeo para nada de imediato. Sendo assim, o carro iria cumprir o papel de "passeios ao final de semana" e viagens. Além disso, queria pegar um carro com características de originalidade que me instigassem a mantê-lo impecável para os (cada dia mais próximos) tempos de dominância de carros elétricos. Em suma, é um carro que pretendo guardar como relíquia para um futuro sem combustível fóssil.
Quando vi o carro pela primeira vez, me chamou a atenção a riqueza em detalhes, tudo meticulosamente original: pneu estepe original, conjunto de macaco/chave de roda completo, todos os emblemas perfeitos, funilaria impecável...enfim, estava "aparentemente" lindo. Conforme já falei em outros posts, logo percebi alguns detalhes negativos, mas mesmo assim estava ávido por acelerar um V6.
Chave girada e...imediatamente o ronco do V6 toma conta da pequena loja. Som lindo, grave, encorpado, mas ao mesmo tempo a marcha lenta é suave e relativamente silenciosa, característico dos seis cilindros em "V", como um felino repousando tranquilamente até ser despertado. Sensação descritível apenas por meio de metáforas...no mais, é pisar no acelerador e constatar por si só.
Para sair do apertado local, tomei o máximo de cuidado, até me adaptar com o tamanho do veículo, maior do que meu outro carro (um queridíssimo Ford Escort GL 1.8 16v 1998 prata).
A primeira coisa que quis fazer foi cravar firme o pé no acelerador para sentir o - tão esperado - coice. Não deu outra...deu um salto à frente imediatamente, grudando a mim e ao vendedor no banco. O motor subiu a rotação com vigor, um rugido bravo e irritado por ter sido despertado do seu sono profundo. Foi paixão a primeira pisada hahaha.
Nesse dia, dei apenas uma volta no quadrilátero ao redor da loja. O vendedor estava preocupado por estar sozinho cuidando da loja. Mesmo assim, deu para testar o que queria, checar ruídos "ruins", acelerar para ver como o motor respondia, testar os freios, ar condicionado, enfim, "ouvir, cheirar e ver", tríade básica para testar um carro. Embora tenha sido pouco tempo, saí satisfeito com o passeio, prometendo retornar no final de semana seguinte para dar continuidade a negociação.
Na semana seguinte, retornei à loja com meu amigo Gian que me auxiliou na checagem de outros detalhes do veículo, chamando-me a atenção para aspectos que não havia notado (especialmente pontos de podre no silencioso do escapamento, entre outros detalhes.
De qualquer forma, me apaixonei pelo veículo. Havia passado a semana toda pesquisando tudo sobre o modelo, unidades, características, peças, manutenção e etc. Sonhava noite e dia com o carro.
Com tudo certo e combinado, partimos para o cartório da região. A partir daí, uma série de desventuras aconteceu que me obrigaram a postergar por alguns dias o sonho e quase me fizeram desistir da compra devido a tantos empecilhos...parecia até que não era para eu comprar o carro e eu estava já sendo levado pela razão para fora do negócio...mas isso já é uma outra história...

Ainda na loja

Aqui podemos ter uma amostra do que é ter um Mondeo V6...peças? Não há...hahaha

No entanto, olha a cara de feliz da criança...

Dia do cartório...




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